Será que vemos as coisas como elas realmente são?
Bruno caminhava de um lado a outro, as musiquinhas natalinas já o incomodavam a dias, caminhou até a janela tentou sentir um pouco do vento
noturno tocar-lhe a face. A noite era fria, e alguns vizinhos caminhavam levando pratos diversos, alguns o cumprimentavam, já outros nem o notavam ali.
Fechou a janela e sentou-se no sofá... Aquela, a Bruno, era a época mais triste do ano, quando era obrigado a contemplar a alegria alheia, sem poder no minimo compartilhar nada... Alias, compartilhar o que, alem da tristeza que sempre sentira?. Fechava os olhos e recordava de todos os momentos felizes próximo a sua amada... Lembranças lindas que tornaram-se dolorosas, lembrava-se da casa cheia de enfeites, os pisca- piscas e ate as musicas natalinas faziam algum sentido, hoje não passavam de sonzinhos irritantes.
Foi até a estante, e pegou um livro de Cristiane... nunca tivera o habito da leitura, mas sempre guardara todos os que ela possuíra. Pegou um qualquer, e mesmo sem olhar titulo ou autor resolveu ler, abriu bem no meio do livro e tentou ler, as letras eram pequenas, fazendo Bruno comprimir os olhos para poder ver algumas delas. Na página que abriu narrava um jovem correndo com duas alianças e falava sobre o amor que o mesmo sentia por uma tal Letícia. Aquilo gerou uma raiva repentina em Bruno. Atirou o livro longe, parecia que o universo agia de forma sátira com seu sofrimento... Naquele momento tudo pareceu sufocá-lo, as musicas natalinas, o Amor, as pessoas sorrindo la fora, a solidão em sua casa. Levantou-se decidido ao pior, caminhou atordoado em direção ao quarto, estava pronto para dar um fim a tudo aquilo. Tomaria o que fosse necessário de remédios. Viver era uma perca de tempo, exceto para os que já nasceram com sorte... Pensava nas coisas cheio de ódio, quando tropeçou em algo,e caiu batendo a cabeça na parede, sentiu o baque e desmaiou.
*** ***
Foi despertando aos poucos, sentindo o corpo frio e estranho, a casa parecia iluminada por alguma luz misteriosa, uma luz diferente de tudo que ja vira, ja que mais parecia a uma neblina, olhou a esmo para todas as direções, quando viu Cristiane logo a porta... Ela usava um vestido azul marinho, o coração de Bruno acelerou, seria um fantasma? Sim era um fantasma, afinal de contas ela morrera. Mesmo feliz por vê-la, teve medo de aproximar-se. Ela, porem, sorridente o chamou:
- Vamos Bruno, não esta feliz em me ver?
Ele ainda assustado:
- Mas você morreu a um ano...Será que morri também?
Ela ainda com um sorriso compreensivo e feliz no semblante respondeu:
- Nada morre, as coisas só se modificam...
Mesmo assustado, mas cheio de saudades e amor foi até ela, pensando que poderia ser somente um sonho... Chegando até ela, sentiu seu perfume espalhar-se no ar, ela pegando-o pela mão, foi o conduzindo até a porta, ele ainda bem ressabiado, lembrava-se do baque que havia levado a poucos e perguntou novamente:
-Sei que aquela frase linda que você disse esta nos livros daquele bruxinho de óculos que o Paulo Coelho escreve, mas me responda....Eu morri?
Ela o abraçou com muito carinho, amava seu jeito atrapalhado:
-Amo você, amo seu jeitinho... As vezes o que achamos ser bobo e sem sentido é o que nos causa mais saudades
E quando menos esperou Bruno atravessou a porta com Cristiane, como em um filme. Sentiu uma sensação gélida, como se um vento gelado passasse por dentro de seu corpo.
A rua era a mesma, exceto pelo céu, que agora parecia estar com o mesmo azul da noite, porem iluminado por uma luz prateada, que se estendia como uma aurora boreal de uma só cor, a Lua parecia brilhar de um jeito diferente e as estrelas pareciam piscar no céu, como os pisca-piscas de natal
-Esta olhando para o céu? Percebes como o infinito e todas coisas as coisas são uma só?-Cristiane falava com um brilho nos olhos- Se entrarmos em casa de novo só veremos as paredes, todavia o universo e o infinito sempre estarão aqui.
Bruno ouvia tudo em silencio e Cristiane prosseguiu:
-As coisas da vida sempre fazem parte do infinito, onde quer que estejamos, também somos parte dele. O que não nos deixa ver, muitas vezes, é a ilusão gerada por nossas paredes mentais e fisicas. Olhamos tudo comparando ao nosso passado, e deixamos de ver as coisas como realmente são.
Bruno baixou a cabeça:
-Desculpa, minutos atras tentei me matar, não dá pra viver sem você, mas até nisso fracassei, tropecei e caí
-Sim eu sei, fui eu quem fez você tropeçar.
Bruno não entendeu:
- Como assim? Por que fizeste isso?
As vezes temos que ser um pouco rudes, para que as pessoas pensem a respeito do mal que estão fazendo, e tentar evitar que elas se machuquem ainda mais.
Bruno não compreendia, será que ao morrer ela deixou de amá-lo?
Cristiane como que lendo seus pensamentos perguntou:
-Você me ama?
Bruno ficou sério
-Em nenhum segundo da vida deixei de amá-la.
Cristiane olhou serenamente para o céu, fechou os olhos, mas logo em seguida os abriu e olhando para ele falou:
-Se sentes tanto o amor por mim; então por que não demonstras?
-Como assim demonstrar? você não esta mais aqui...
- Sim, é por isso... sofremos porque tratamos o amor e quem amamos como propriedade: Meu vizinho, Minha Namorada, Minha amiga, Meu amigo. O Amor não é propriedade e sim a essência que mantem toda a vida. Olhe para seus vizinho em volta, Bruno olhou, alguns estavam fora de suas casas, outros nem comemoravam, e alguns festejavam em sigilo; apenas ouvia-se uma musica baixa e via-se algumas luzes, outros, porem, eram mais barulhentos e beberrões.
-Se você pode fazer melhor, ajude os outros. Ajude-os como ajudaria a mim.
Cristiane levantou-se e caminhou, chamando Bruno, em seguida. Ele levantou-se e a seguiu, ela começou a apontar para as casas.
-Esta vendo, aquela é a casa do Senhor Jorge e da Senhora Catarina, eles estão brigados a dias e seu casamento por um fio, breve, se continuar assim, aquelas duas crianças terão que lutar para ficar com um deles... Seguiram a outra casa...
-Aqui moram Marco sua mãe e pai. Marco anda discutindo com o pai e a mãe, e já tem vários amigos que só o dão péssimos exemplos.
Cristiane foi caminhando por todas as casas, apresentando a história e a dificuldade de cada uma delas... Até chegar a uma mais humilde e se sentar na calçada. Tudo que ela fazia Bruno repetia. Cristiane abraçou os joelhos e neste momento com a voz triste começou a falar:
-Aqui mora dona Jorgina e seu Adelsom... Seu Adelsom esta muito doente, e a anos lutam contra um câncer raro, e... devo lhe dizer que infelizmente ele há de falecer na semana que vem...
Bruno ficou calado, pensou em abraçá-la, mas ela prosseguiu:
-Ele irá falecer e a ultima lembrança dela será esta... quer que ela termine como você? Triste e servindo de exemplo de sofrimento?
Assustado Bruno ficou de pé:
-Como assim, o que você quer que eu faça?
-Que dê a todos eles uma noite de alegria, faça aquilo que disser o seu coração, vá ate a casa de cada um deles e faça algo
-Mas nunca fiz isso sou tímido, e ainda nem tenho como trazer nada de presente, alem do quê nem os conheço direito.
Cristiane levantou-se:
-É assim que as pessoas agem todos os dias! Tratam todos como estranhos, julgam cabelo, aparência posição social ou familiar. Por isso todas, mesmo vivendo juntas, estão sozinhas. Olha para o céu e para tudo isso. Todas aquelas pessoa naquelas casas e fora delas tem um sonho, uma história, uma vida, amigos e amores... Tudo faz parte do mesmo existir e de um (UNI)co-(VERSO). O mal só está aqui, porque ninguém procura fazer um bem sequer ao outro...
Bruno não sabia o que responder:
-Não posso, não sou nenhum religioso ou santo, alem do que tenho medo não sei se...
-Tens coragem de tirar a vida, mas não em vivê-la. Custa tentar fazer em uma noite o bem que nunca fizeste em toda vida?
Bruno consentiu, e Cristiane o abraçou dizendo que sempre estaria com ele, e com a mão em seu peito o empurrou brandamente, fazendo-o voltar a rapidamente ao corpo.
Acordou-se atordoado, seria só uma ilusão?
Mesmo que fosse sentia o perfume de Cristiane na casa e uma alegria imensa no peito. Correu do quarto para sala, arrumando a casa, vestiu a melhor roupa, beijou o porta-retratos com as fotos de Cristiane e saiu. Passou primeiro na casa de Senhor Jorge e Senhora Catarina. Eles primeiro relutaram, pois nunca haviam trocado mais de algumas breves palavras com Bruno, mas ao contar a história de Jorgina e Adelsom os convenceu a levar um prato de algo ate a casa deles. Partiu em seguida ate a casa de Marco, o jovem como qualquer adolescente, mostrou-se contrário a ideia, mas logo também aceitou. Pelas 23:00Hrs todos se encontravam na rua, cada um com algo para levar à família...
Chegaram a porta e bateram palmas, era uma casa humilde, mas muito bem cuidada... Dona Jorgina abriu assustada, não entendia o porquê detodos os vizinhos estarem ali, mas antes que pudesse perguntaralgo, foi recebida com um sonoro: Feliz Natal!
Pediu que aguardassem um momento, entrou e vestiu um vestido simples, era uma senhora com cerca de 60 anos, cabelos grisalhos e pele morena... Os vizinhos entraram acomodando-se no quintal, arrumaram algumas lâmpadas simples, Bruno, Marco e seu Pai carregaram uma mesa ate onde estavam todos e sobre ela colocaram diversos tipos de comida. Havia um banquete, em que cada um fizera um pouco... Seu Adelsom foi ate o quintal em uma cadeira de rodas e foi cumprimentado por todos... Cearam, brindaram, sorriram e conversaram. Apos certo tempo Bruno caminhou ate um canto vazio na casa, escorou-se na parede e pode contemplar algo mágico: pai abraçar filho, maridos e suas esposas e amigos e amigas. Podia ver um sorriso no rosto de seu Adelsom e Jorgina. Olhou para céu e agradeceu por seu amor por Cristiane e ao mesmo tempo pensou: e se todas as noites fossemos assim, e se cada um se preocupasse ao menos um pouco um com o outro, e se todos fizessemos ao menos uma vez todo bem que não fazemos durante a vida inteira?
Seu Adelsom faleceu uma semanas depois, mas para sempre dona Jorgina teve como lembrança aquele natal especial, e Bruno pode entender que amor, não é sentimento ou emoção e sim uma oportunidade em que cada ser humano pode dividir.
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"Aquele que tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para dar".
Santo Agostinho
Amar é um privilégio único e sua principal característica é a caridade, e ser caridoso é dividir aquilo que temos de melhor. Caridade não é só dividir bens, dinheiro ou uma mesa farta, mas dividir nosso coração, sorriso e dedicação a quem precisa e com quem amamos.
Escolha ser feliz, ate isso você pode escolher... não desista.
Tenha prioridades que valham a pena, Quantas vezes por bobagens, desligamos nossa musica preferida, saímos de um lugar agradável e magoamos quem nos ama, por uma simples discussão ou ofensa... O que é prioridade em sua vida, ser feliz ou manter o orgulho? Estar certo, ou estar bem?
O que é o agora? O que você leu ainda pouco é passado e o que ainda vais ler é futuro, então o que é o agora?... Agora é um instante, um momento e todo o momento é uma oportunidade para evoluir e fazer o melhor. erdemos tantos momentos lindos nos ocupando com lamentos do passado e nos (pre)ocupando com sofrimentos futuros que nunca chegam a ocorrer... A vida não é só nossa, a vida é eterna, cada momento aqui é um privilégio.
Nesse natal, não julgue ninguém, seja ele ateu ou religioso. Pois se Deus ou a evolução da vida deu a eles o direito, de por escolha, pensar assim, quem sou eu para discordar? Ajudar o outro não é impor nossa maneira de pensar e sim compartilhar o nosso melhor, sempre buscando um progresso mutuo como iguais. Não queira espelhos ou ecos e sim pessoas vivas e idiossincráticas como irmãs.
Acredite em você mesmo! Perdoe, ame e faça todo o bem. Quando amamos, percebemos que todo amor que depositamos nos outros na verdade desenvolvemos em nós mesmos.
De todo o coração desejo a todos um natal abençoado, cheio de sorrisos, e momentos marcantes de amizades, amores, e alegrias...
FELIZ NATAL =}.